quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Palavra de Deus é Viva e Eficaz

Mensagem do Primeiro Congresso Brasileiro de Animação Bíblica da Pastoral

1. Com o coração repleto de alegria, nós, os 500 participantes do Primeiro
Congresso Brasileiro de Animação Bíblica da Pastoral, celebrado em Goiânia, de 08 a 11 de outubro de 2011, saudamos fraternalmente a toda a Igreja que está no Brasil com quem partilhamos a riqueza da Palavra de Deus experimentada nesses dias de convivência, reflexão e comunhão.


A Palavra de Deus é viva e eficaz (Hb 4,12). Por Ela, Deus se revela, se comunica, vive em nós e conosco, pois Ele se doou por completo a nós, em Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem (Jo 1,1.14). Ele é a Palavra Encarnada visível, audível, tocável, princípio de todas as coisas; Palavra salvadora, transformadora, libertadora, que ilumina, alimenta e leva a resistência na defesa integral da vida e da dignidade humana. Palavra que É e dá sentido a tudo o que somos e temos. Palavra que alimenta a fé, fortalece a esperança e concretiza o amor.

2. Nestes dias de graça, resgatamos a memória do caminho que a Palavra fez conosco e do caminho que fizemos com Ela na história. Lemos os Sinais dos Tempos nos desafios e oportunidades da civilização em mudança, na qual estamos inseridos.

Entendemos que a Animação Bíblica da Pastoral é uma dádiva de Deus, capaz de reavivar na Igreja a consciência de que a sua identidade e missão derivam da Palavra de Deus; capaz de renovar e dinamizar a vida, as estruturas e a ação da Igreja em sua totalidade.

Sentimo-nos provocados a construir, em nós e na comunidade eclesial, uma postura aberta e condizente com o divino processo transformador e revitalizador das pastorais, dos movimentos, das CEBs e das pequenas comunidades, estabelecendo inter-relação, interdependência e cooperação entre os pastores e os fiéis em todas as iniciativas pastorais, impulsionando o dinamismo, o crescimento e a irradiação dessa Palavra.

Cabe-nos agora assumir, com coragem e juntos, a tarefa de fazer acontecer a Animação Bíblica de toda a Pastoral.

3. O Papa Bento XVI alerta-nos: “Não se trata de acrescentar qualquer encontro na paróquia ou na diocese, mas de verificar que, nas atividades habituais das comunidades cristãs, nas paróquias, nas associações e nos movimentos, se tenha realmente a peito o encontro pessoal com Cristo que se comunica a nós na sua palavra. Dado que a ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo (São Jerônimo), então podemos esperar que a Animação Bíblica de toda a Pastoral ordinária e extraordinária levará a um maior conhecimento da pessoa de Cristo, Revelador do Pai e plenitude da Revelação divina” (VD no. 73).

4. Irmãs e irmãos invoquemos o Espírito Santo, para que nos dê, a todos nós a atitude do discípulo, que escuta para colocar em prática o que o Senhor diz, e nos dê a graça de dinamizarmos a Animação Bíblica da Pastoral. Para isso, propomos:


a) que a conversão pessoal e pastoral, solicitada pelo documento de Aparecida, seja fortemente alimentada pela leitura diária e a vivência da Palavra de Deus, priorizando o método da Leitura Orante;

b) que a iniciação à vida cristã, formando verdadeiros discípulos missionários, seja alimentada e dinamizada pela Palavra de Deus;

c) que a família e as comunidades se congreguem ao redor da Palavra de Deus e, à sua luz, reforcem as suas relações de vida e de comunhão;

d) que todas as iniciativas em nossa Igreja partam da Palavra de Deus, por ela se iluminem, se alimentem e se avaliem;

e) que todas as Igrejas Particulares invistam na formação bíblica dos leigos e leigas e na formação bíblica-pastoral dos seminaristas e dos presbíteros;

f) que a leitura das Sagradas Escrituras nos converta ao acolhimento, à convivência fraterna e à colaboração mútua de todos os cristãos promovendo um verdadeiro ecumenismo;

g) que nós, convertidos pela Palavra de Deus, sejamos agentes transformadores da sociedade, a favor dos mais necessitados, tendo em vista o Reino de Deus que também é nosso.

5. Isso exige, por parte dos bispos, dos presbíteros, dos diáconos, dos religiosos e religiosas, dos ministros da Palavra, dos agentes de pastoral e de todos os leigos e leigas uma firme decisão e um sólido compromisso que concretize a Animação Bíblica da vida e da pastoral nas nossas Igrejas particulares. Isso se realizará na medida em que a Palavra continuar o seu mistério de encarnação em cada um de nós como em Maria.

6. Que a Palavra de Deus, lâmpada para os nossos passos e luz para o nosso caminho, guie todos os esforços para que Cristo Jesus seja tudo em todos.

Goiânia, 11 de outubro de 2011.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

SÓ PODE TRABALHAR COM A PALAVRA, QUEM SE DEIXA TRABALHAR PELA PALAVRA.

Dedicado a Carlos Mesters em seus 80 anos.

Catequistas, agentes das mais variadas pastorais, religiosas, religiosos, padres, bispos de todas as regiões do Brasil participaram de 8 a 11 de outubro, em Goiânia, do I Congresso Brasileiro de Animação Bíblica da Pastoral. Realizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), através da Comissão Episcopal Pastoral para Animação Bíblico-pastoral, e pela Sociedade de Catequetas Latino-americanos (SCALA), o Congresso reuniu 500 pessoas.

O presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Animação Bíblico-catequética da CNBB e arcebispo de Pelotas (RS), dom Jacinto Bergmann abriu o Congresso destacando a importância da Palavra de Deus na vida da Igreja. Segundo o arcebispo, a bíblia deve nutrir a vocação e a missão de todo discípulo missionário. “Trata-se de compreender que a Palavra de Deus é a alma, o coração de toda pastoral, de toda ação evangelizadora da Igreja”, disse.
Dom Jacinto recordou os objetivos do Congresso. “Precisamos com coragem entender, construir e assumir uma viva e eficaz animação bíblica da pastoral. Isto é, tornar a palavra de Deus a alma da Igreja”, acentuou. De acordo com dom Jacinto, a Igreja, nos cinco continentes, “respira a grande inspiração de uma animação bíblica da pastoral”.

"A Igreja num mundo em mudança". Este foi o tema que abriu o ciclo de debates do Congresso. O tema foi apresentado pelo teólogo, padre Joel Portella. Segundo padre Joel, o fenômeno da mudança de época, que caracteriza os tempos atuais, não é específico da Igreja Católica, nem de uma região do planeta. A mobilidade e a provisoriedade são características dos novos tempos. “O caráter desconcertante da atual mudança de época decorre da radicalidade com que os critérios se transformaram e estão se transformando”.

Ele defende que estas mudanças não são “de todo negativas”, mas também “momentos muito propícios para o crescimento pessoal e comunitário”. Padre Joel destacou, ainda, que o cristianismo é marcado pela mobilidade. “Quando nos voltamos, de modo orante, para a Escritura Sagrada, encontramos um fio condutor de mobilidade”, esclareceu, lembrando o Novo Testamento onde se diz que o “Filho do Homem não tendo onde reclinar a cabeça (Mt 8,20), andando de cidade em cidade (Lc 4,43) enviando os discípulos na mesma situação, sem muitos apoios ou condições de estagnação (Lc 10,4)”.


Os biblistas frei Carlos Mesters e Francisco Orofino animaram os 500 participantes do Congresso com a conferência “Jesus, Palavra encarnada, Palavra anunciada”.
Reconhecido pela linguagem simples e pelas histórias que usa para explicar a bíblia, frei Carlos Mesters, que no dia 20 completou 80 anos, destacou a relação de Jesus com a Palavra de Deus e lembrou que foi escrita para ajudar a vida. “O livro mais importante não é a bíblia, mas a vida, conforme lembra Santo Agostinho”, recordou. “Cada pessoa é uma palavra ambulante de Deus para os outros. A bíblia não foi feita para substituir a vida, mas para ajudar a entender a vida”, salientou. Segundo Carlos Mesters, “nós podemos ajudar a revelar o reino de Deus que está nas pessoas”.
Orofino, que assina o texto da conferência junto com frei Carlos, insistiu que “só pode trabalhar com a palavra, quem se deixa trabalhar pela palavra”. Ele apontou a casa, a sinagoga e o templo como espaços sagrados onde Jesus aprendeu a Palavra de Deus. “Se você quiser conhecer a Deus, olhe para Jesus. Se quiser saber como usar a Palavra de Deus na pastoral, olhe para o jeito de Jesus usar e interpretar a Palavra do Pai. Se quiser saber como fazer pastoral, olhe para Jesus, o Bom Pastor”, concluíram os biblistas.

O arcebispo de Goiânia (GO), dom Washington Cruz, presidiu a missa concelebrada por nove bispos e dezenas de padres. Em sua homilia, dom Washington comentou o evangelho proclamado na celebração, que apresentava Jesus afirmando que “mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”. “No mundo é preciso criar espaço para a escuta da palavra. É tempo de fazer ressoar com entusiasmo e acreditar que se a vivemos, podemos criar um mundo melhor”, acrescentou dom Washington.

Duas conferências marcaram o segundo dia do Congresso. Os temas “A pastoral na vida da Igreja” e “A Palavra de Deus é viva e eficaz” foram apresentados, respectivamente, pelo teólogo, padre Agenor Brighenti, e pelo bispo de Rondonópolis (MT), dom Juventino Kestering.
Padre Agenor acentuou o momento de crise por que passa o mundo ocidental que, segundo ele, “deve-se à crise da modernidade, do projeto civilizacional moderno, responsável pelas maiores conquistas para a humanidade, mas, ao mesmo tempo, pelas maiores frustrações da história”.

Para Dom Juventino Kestering “falar de ‘Pastoral na vida da Igreja: uma nova compreensão de Pastoral num mundo em mudança’ é resgatar e atualizar a dinâmica da pastoral para que ela seja ‘viva e eficaz’”. Segundo o bispo de Rondonópolis, a Palavra de Deus é “viva para responder aos anseios, às buscas, às necessidades dos homens e das mulheres de hoje” e “eficaz porque o homem e a mulher modernos já não suportam algo que não tem significado e nem se sente atraído a aquilo que não é eficaz”.
O primeiro passo da pastoral que se fundamenta na Palavra de Deus e se deixa iluminar por ela, “será conhecer a Palavra e acolhê-la”, acrescentou. Dom Juventino defendeu a necessidade de uma renovação pastoral para uma animação bíblica da pastoral. “Falar em renovação pastoral necessariamente exige adentrar na eclesiologia de participação, em todos os níveis; pensar em paróquias descentralizadas e missionárias, onde os leigos e as leigas, junto com seus pastores, realizam sua vocação”, explicou.
A Palavra de Deus vivida e celebrada foi o tema desenvolvido pela biblista e professora Irmã Lúcia Weiler. Ela apontou a criação e a libertação como dois marcos celebrativos e enumerou dez “estacas ou indicadores de momentos celebrativos da caminhada do povo de Deus”.
Segundo a irmã a inspiração das dez “estacas” vem do profeta Jeremias, “que convida o povo a celebrar a volta do Exilio e hoje nos convida a entrar no mesmo caminho”.

As estacas são: o credo do povo de Deus; os salmos; a leitura profética da história; a leitura sapiencial da história; o cântico de Maria no encontro com Isabel; da tentação à oração e missão; a reconciliação; a celebração da despedida de Jesus; a madrugada do novo dia, o primeiro da semana e a Palavra vivida e celebrada nas comunidades cristãs nascentes, geradas no Espírito.

O biblista e professor de Ciências da Religião, Valmor da Silva, apresentou o tema “A Palavra preparada”. “A intenção é destacar como a palavra de Deus ilumina a vida do povo de Deus, na perspectiva da animação bíblica de toda a pastoral”, explicou o biblista.
Valmor desenvolveu seu tema lembrando, em primeiro lugar, as comparações que a bíblia faz da Palavra de Deus. Neste sentido, o biblista recordou que a Palavra é como “chuva que fecunda a terra, fogo que queima por dentro, luz que ilumina a caminhada, espada afiada que corta, atleta que corre veloz, alimento que sacia e remédio que cura”.
O conferencista destacou, ainda, que “a Palavra anima a vida toda”. Segundo ele, “o Primeiro Testamento é um celeiro repleto de material sobre a animação bíblica da pastoral e da vida como um todo”. “A palavra anima não apenas a formação religiosa, litúrgica, ou a catequese específica, mas ela conforma toda a vida cidadã, na família, na escola e na sociedade, em todos os seus setores. É onde a palavra e a própria vida se fundem como uma realidade única”, disse Valmor.


A biblista Mercedes de Budallés Diez, que é assessora do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), mostrou a passagem da pastoral bíblica para a animação bíblica partindo do Concílio Vaticano II até os dias atuais.
Já a doutoranda em teologia bíblica, irmã Maria Aparecida Barboza, mostrou a evolução da pastoral bíblica para uma animação bíblica no Brasil. “A redescoberta da Bíblia e o seu uso constante por todas as Igrejas Cristãs no Brasil, tem sido um marco significativo no crescimento da experiência da fé das comunidades espalhadas pelo nosso País”, frisou irmã Cida, como é mais conhecida.

“Estamos diante de um novo e desafiador, mas providencial, momento na nossa ação evangelizadora na Igreja: a Animação Bíblica da Pastoral”. A afirmação é do presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Animação Bíblico-catequética e arcebispo de Pelotas (RS), dom Jacinto Bergmann. Segundo dom Jacinto, a Igreja precisa superar limites “de uma pastoral da cristandade” e implantar “corajosamente” uma pastoral de comunhão e orgânica e que responda às necessidades dos fiéis “conforme as exigências do mundo de hoje”.
Dom Jacinto apontou três funções da animação bíblica da pastoral: ser caminho de conhecimento e interpretação da palavra de Deus; ser caminho de comunhão e oração da palavra e ser caminho de evangelização e proclamação da palavra.
“A animação bíblica da pastoral, com estas três funções, satisfaz a permanente necessidade dos discípulos missionários de Jesus Cristo de nutrir-se com o Pão da Palavra de Deus mediante o conhecimento e a interpretação adequada dos textos bíblicos, de seu emprego como mediação de diálogo com Jesus Cristo e como alma da própria evangelização e do anúncio de Jesus Cristo a todos”, disse, citando o Documento de Aparecida.

Implementação da animação bíblica da pastoral

A formadora do Centro Bíblico para América Latina (Cebipal), Katiuska Cáceres, indicou caminhos de organização e implementação da animação bíblica da pastoral. “A animação bíblica quer que a Palavra de Deus que a Sagrada Escritura transmite, seja – na pastoral orgânica da Igreja – a seiva e o coração que torna realidade o encontro com Jesus Cristo em todas as instâncias pastorais”, salientou Katiuska.

Dom Jacinto na missa de encerramento do Congresso comentou o trecho da carta de São Paulo aos Romanos, chamando o apóstolo de “grande animador bíblico da pastoral do tempo e da terra dos gentios”. Parafraseando o apóstolo, o arcebispo exortou os congressistas a não terem vergonha do evangelho de Cristo. “Nós, os animadores bíblicos da pastoral do nosso tempo, em mudança de época, a partir desse congresso, não nos envergonhamos da palavra de Deus, pois ela é força salvadora de Deus para todo aquele que crê”.
O arcebispo se mostrou animado com o resultado do Congresso cujo objetivo principal ele resumiu com os verbos "entender, construir juntos e assumir" a animação bíblica da pastoral. “Conseguimos adentrar bem na compreensão do que seja a animação bíblica da pastoral”, afirmou.

Estamos diante de uma nova primavera da Palavra, um novo e desafiador momento na nossa ação evangelizadora na Igreja: a “Animação Bíblica da Pastoral”.