“É preciso fundamentar nosso compromisso missionário e toda a nossa vida na rocha da Palavra de Deus” (Doc. Aparecida 247)
terça-feira, 30 de agosto de 2011
APOCALIPSE: A ALEGRIA DE SERMOS PROFETAS (III)
4. DICAS PARA LER O APOCALIPSE
O livro que temos em mãos vai dirigido às sete igrejas (1,4.11). Trás a visão inaugural , as sete mensagens proféticas que o Senhor Ressuscitado dirige “pessoalmente” ao anjo de cada uma das sete igrejas (1,9-3,22), e todo o resto do livro as tem como pano de fundo.
1. Sete Bem-aventuranças estruturam toda a construção chamando a atenção aos destinatários para entender que tipo de obra tem nas mãos (1,3; 14,13; 16,15; 19,9; 20,6; 22,7; 22,14).
2. Sete mensagens proféticas são dirigidas a cada um dos sete anjos das sete igrejas (ver capítulos 2-3)
3. Sete promessas ao Vencedor ao final de cada mensagem profética (2,7.11.17.26; 3,5.12.21 (2x)) e logo no resto do livro aparece o sentido e o chamado a vencer: 5,5; 6,2; 11,7; 12,11; 13,7; 15,2; 17,14; 21,7 (total: 17 vezes): ¡O Apocalipse, a pesar de tudo, é um livro de VITÓRIA!
4. Sete Advertências a escutar: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”: 2,7.11.17.29; 3,6.13.22.
5. Também há chamadas de atenção ou avisos fortes que iniciam com um Ai, e que encontramos em: 8,13(3x); 9,12(2x); 11,14(2x); 12,12; 18,10(2x); 18,16(2x); 18,19 (2x) (total: 14 vezes).
6. Não faltam ameaças e castigos: agora bem, fiquemos de olho para os destinatários: É bom não trocar uns pelos outros: o resultado seria uma brincadeira pesada!
7. No primeiro capítulo temos a visão do Ressuscitado que, como farol, ilumina todo o livro do Apocalipse: 1,9-20. No capítulo 4: O Símbolo central: O que está sentado no TRONO. Capítulo 5: O CORDERO DEGOLADO E EM PÉ!
8. O LIVRO selado com sete selos e que só o Cordeiro pode abrir. Sete trombetas tocarão (juízo sobre a história) e a tarefa de PROFETIZAR: o livro aberto que o profeta deve comer! (Ap 10,8-11).
9. A luta do Dragão e da Mulher (capítulo 12). A Besta (13,1-10) e a pequena besta (13,11-18). Sete Copas da ira de Deus e seus destinatários... (cap. 15-16).
10. A grande Prostituta – Babilônia e a sua queda clamorosa (17-19) e a derrota do Dragão (20,1-15).
11. A Esposa do Cordeiro e o casamento do Cordeiro (19,5-9). O livro conclui com a Nova Jerusalém (Ap 21-22), cidade contraposta à Babilônia, onde a Vida cresce por todo canto, e a luz brilha nela, pois se encontra o trono de Deus e do Cordeiro, e não faltará a luz da lâmpada nem a luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina: “A cidade não precisa que o sol a ilumine nem a luz, porque a glória de Deus a ilumina, e sua lâmpada é o Cordeiro. Á sua luz caminharão as nações, e os reis ao seu esplendor” (21,23-24).
5. BIBLIOGRAFÍA
ALEGRE X., El Apocalipsisde Juan, en TUÑI Josep Oriol- X. ALEGRE,Escritos joánicos y cartas paulinas, IEB 8, Estella, Verbo Divino, 1995 (existe tradução em português).
ARENS Eduardo – DIAZ MATEOS Manuel, O Apocalipse. A força da esperança. Estudo, leitura e comentário, São Paulo, Loyola, 2004.
José BORTOLINI, Como ler o Apocalipse. Resistir e denunciar, São Paulo, Paulus, 31994.
GRUPO DE REFLEXÃO DA CRB, O sonho do povo de Deus. As comunidades e o movimento apocalíptico, Rio de Janeiro - São Paulo, CRB- Publicações/1996 – Loyola, 1996.
HOWARD- BROOK Wes – GWYTHER Anthony, Desmascarando o imperialismo. Interpretação do Apocalipse ontem e hoje, São Paulo, Loyola – Paulus, 2003.
Carlos MESTERS, Esperança de um povo que luta. O Apocalipse de são João, uma chave de leitura, São Paulo, Paulus.
MESTERS Carlos – OROFINO F., Apocalipse de são João. A teimosia da fé dos pequenos, Petrópolis, Vozes, 2002.
MESTERS Carlos – OROFINO F., Apocalipse de João. Esperança, Coragem e Alegria. Círculos Bíblicos, São Leopoldo – São Paulo, CEBI – Paulus, 2002.
PRÉVOST Jean- Pierre, Para leer el Apocalipsis, Estella, Verbo Divino, 1994.
PRIGENT Pierre, O Apocalipse, São Paulo, Loyola, 1993.
RIBLA, Apocalipse de João e a mística do milênio, 34 (1999). Número monográfico.
RICHARD Pablo, Apocalipse. Reconstrução da esperança, Vozes, Petrópolis, 1996.
SCHÜSSLER FIORENZA Elisabeth, Apocalipsis. Visión de um mundo justo, Estella, Verbo Divino, 1997.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
APOCALIPSE: A ALEGRIA DE SERMOS PROFETAS (II)
2. CHAVES DE LEITURA DO APOCALIPSE
1. Apocalipse, diário e cancioneiro de resistência. O Apocalipse é um escrito de luta no qual Deus vai escrevendo a Vida: Ap 4,4-11; 5,8-14; 11,15-18; 12,10-12; 14,2-3; 15,2-8; 16,5-7; 19,1-8; 21,3-7.
2. Apocalipse, livro profético de denúncia radical: Com expressões simbólicas, e imagens reais e radicais que exigem uma leitura no contexto no qual aparecem! Há capítulos muito significativos onde a lógica da Vida e a lógica da Morte se enfrentam e é necessário fazer uma escolha (12-13; 13,10.18; 17-18).
3. Apocalipse, memória da celebração da Vida (1,16) e da Vitória (19,1-4) de todas aquelas pessoas que creem na Força do “Cordeiro degolado e em pé” (5,16), O Vivente que tem em sua mão as “sete estrelas” e está sentado no trono de seu Pai (3,21) e é o único capaz de tomar o livro e abrir os selos, quer dizer, é capaz de interpretar toda a história da humanidade desde o começo até o final: ¡Alfa e Ômega! (1,8; 21,6: 22,13).
4. Apocalipse é um quebra-cabeça do AT: simbolismo.
A linguajem simbólica é claramente sublinhada pelos comentaristas que se adentram neste oceano de luz e esplendor. Xavier Alegre comenta que a linguajem simbólica é um dos traços mais específicos da literatura apocalíptica e contribui a convertê-la numa literatura cifrada. Em Ap as imagens estão tomadas, frequentemente, do AT. Se temos em conta as citações e as alusões ao AT, “Apocalipse poderia ser visto como um quebra-cabeça do AT”.
5. Apocalipse, revelação do testemunho profético da comunidade até as últimas consequências, como Antipas, João de Patmos e a Testemunha fiel e fidedigna (1,5).
6. Apocalipse, promessa de felicidade. Sete bem-aventuranças se escondem em seu seio, como pilares fortes que sustentam todo o edifício: 1,3; 14,13; 16,15; 19,9; 20,6; 22,7.14.
7. Apocalipse, livro da urgente Justiça: Até quando, Senhor? (6,10-11) proclamam insistentemente os mártires pedindo justiça. Neles ecoa o grito das comunidades crucificadas ao longo da história: “Eles gritaram em alta voz: «Senhor santo e verdadeiro, até quando tardarás em fazer justiça, vingando o nosso sangue contra os habitantes da terra?» Então foi dada a cada um deles uma veste branca. Também foi dito a eles que descansassem mais um pouco de tempo, até que ficasse completo o número de seus companheiros e irmãos, que iriam ser mortos como eles” (6,10-11), e encontra a resposta no Rosto daquele que foi Degolado como Cordeiro e AGORA está DE PÉ (5,6).
Os seguidores do Cordeiro sabem muito bem de quem se trata, e todo aquele que o sabe, encontra também força e motivos para crer, resistir e esperar no meio da tribulação (1,9; 2,9.10.22; 7,14). Aí está escondida a força vigorosa deste livro “profético” (1,3; 11,6; 19,10; 22,7.10.18.19), “evangelho eterno” (14,6) para enfrentar a tribulação, a perseguição e se for preciso até a mesma morte como Antipas (2,13) e tantos outros (7,14-17), “por que a esperança não morre jamais!” (Dom Avelar, bispo de Salvador).
8. Apocalipse, livro da teimosa Esperança do mandacaru: 2,7.11.17.26; 3,5.12.21.
Propomos ler o Apocalipse desde o começo até o final, seguindo as pistas narrativas que nos vai colocando a cada passo. Não é suficiente lê-lo uma só vez para familiarizar-se e ter sintonia com as imagens e os símbolos mais significativos do Apocalipse, entrando assim realmente no miolo da sua mensagem.
É necessário ter presentes as chaves de leitura que o mesmo Autor nos oferece desde o título-prólogo, onde faz uma síntese do caminho que quer fazer percorrer aos leitores de ontem e de hoje.
Assim, seguindo passo a passo as suas dicas compreenderemos as diferentes situações que descreve a partir dos contextos culturais, sociais, políticos e religioso-teológicos. Do contrario, corremos o risco de ficarmos na casca, sem saborear o fruto que está dentro e sem chegar a captar a raiz, a Espiritualidade que anima cada página desta obra fascinante e maravilhosa dirigida as Sete Igrejas da Ásia e ao mesmo tempo à Igreja de todos os tempos e lugares: para descobrir qual é a Revelação de Jesus Cristo e suscitar Resistência, perseverança e confiança na Vitoria do Senhor Ressuscitado provocando a esperança com o mesmo grito de alegria da Esposa e do Espírito que dizem: ¡VEM, SENHOR, JESUS! (22,17-21).
3. ESTRUTURA GLOBAL DO APOCALIPSE (Pablo Richard).
Prólogo e saudação (tempo presente): 1,1-8
A) 1,9-3,22: Visão apocalíptica da Igreja
B) 4,1-8,1: Visão profética da história
C) 8,2-11,19: as trombetas (releitura do Êxodo)
CENTRO: 12,1-15,4: a comunidade cristã entre as Bestas
C´) 15,5-16,21: as taças (releitura do Êxodo)
B´) 17,1-19,10: visão profética da história
A´) 19,11-22,5 visão apocalíptica do futuro
Epílogo (tempo presente): 22,6-21
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
APOCALIPSE: A ALEGRIA DE SERMOS PROFETAS
Teologia narrativa para comunidades proféticas
0. INTRODUÇÃO
O Apocalipse, apesar das dificuldades que entranha, é um livro fascinante. Digo isso, agora, depois de haver experimentado grande dificuldade para explicá-lo às comunidades que me pediram um curso sobre Apocalipse, e de tê-lo estudado logo durante vários anos. Demorei dois anos até que encontrei o jeito de apresentá-lo em Equipe durante três semanas, primeiro a 70 adultos e dez crianças, e em seguida a 75 crianças e 150 jovens e adultos da paróquia Nossa Senhora Auxiliadora de Pau da Lima, Salvador na Bahia.
- DESMONTANDO: O QUE NÃO É O APOCALIPSE!
O Aurélio diz sobre o Apocalipse: “O último livro do Novo Testamento atribuído a S. João, o Evangelista, e que contém revelações terroríficas acerca dos destinos da humanidade. Fig. Linguagem muito obscura, sibilina”. Assim, na linguagem popular e comum, apocalipse e apocalíptico, deixaram de ser um gênero literário cultivado, sobretudo nos dois séculos anteriores a era cristã e nos dos séculos depois de Cristo, e passaram a ser sinônimo de coisas tremendas, terroríficas, de catástrofes, desastres ou coisas semelhantes... Devido ao fato de, na maioria das bíblias em língua portuguesa se usar o título Apocalipse e não Revelação, até o significado da palavra ficou obscuro, sendo às vezes usado como sinônimo (errôneo) de "fim do mundo".
Existem, falando muito em geral, dois tipos de Apocalipses: Primeiro, aquele que escreveu João e temos na Bíblia, difícil de se explicar, mas da para entender. Segundo, existe outro Apocalipse na cabeça de muita gente (!), no imaginário do povo em geral, criado na cultura ao longo de séculos de história, fruto de certa literatura ou de películas cheio de monstros, imagens fabulosas e coloridas que realmente não da para explicar, por que não corresponde e não tem nada a ver com o texto que encontramos no livro do Apocalipse!
Em ambientes fundamentalistas, infelizmente, é costume enfatizar aspectos que jamais foram os mais importantes no Apocalipse, baseados apenas em um ou outro texto. Uma leitura ao pé da letra e uma leitura dos textos fora do contexto levam a qualquer pretexto ou a uma leitura falseada de sua finalidade original!
Uma coisa muito estranha e curiosa: O Apocalipse é um livro que causa muito medo , quando, paradoxalmente, foi escrito para comunidades perseguidas no meio do Império Romano para acender nelas a Coragem, a Resistência, a Alegria, a Profecia, o sentido da Vitória e da Esperança em Cristo, O Vivente! Há várias figuras ao longo do livro, mas a figura CENTRAL do Apocalipse é, sem dúvida alguma, CRISTO MORTO E RESSUSCITADO!
Estou convencido, como dizem Eduardo e Manuel, que “O Apocalipse é totalmente diverso porque ensina a viver a fidelidade corajosa em meio ao mundo e ao conflito, confiante na vitória de Cristo. O Apocalipse é, antes de tudo, um livro de confiança, segurança e esperança” .
1. CAÇA AO TESOURO: CRITÉRIOS DE LEITURA DO APOCALIPSE
1. Começar pelo começo e chegar até o fim: isso está muito bem! Assim de simples e assim de claro: ler capítulo por capítulo. Desde o começo até o final, seguindo o fio dos acontecimentos, seguindo a pista das personagens, seguindo as chaves que vai colocando a cada passo. Meu conselho, breve e direto, é ler os três primeiros capítulos, três vezes. Logo o resto até o final.
2. Ler e interpretar os textos difíceis e escuros, à luz dos textos claros. Não começar logo por interpretar os detalhes. Uma vez que temos a visão de conjunto os detalhes se iluminam reciprocamente. Ler um minuto cada dia. Leitura constante e continua para entrar em sintonia e ter intimidade “com o mundo do Apocalipse”.
3. Anota tudo o que lhe chamou a atenção na leitura.
4. Anota todas as perguntas e dúvidas relacionadas com o Apocalipse. Uma vez anotadas as perguntas, lê o Apocalipse e deixa que a leitura e o texto respondam em seu momento e iluminem as dúvidas e perguntas. O texto se irá fazendo cada vez mais transparente, revelando seu segredo e o objetivo último pelo qual foi escrito.
5. Ler e trabalhar o Apocalipse em grupo, em comunidade (1,3; 2,1-3,22). O Apocalipse está dirigido a sete comunidades, por isso a comunidade é o lugar ideal para compreendê-lo em profundidade.
6. Celebrar: O Apocalipse é uma grande celebração da Vitória sonhada, esperada trás anos de luta e compromisso (Ap 6,9-11). O Apocalipse nos convida a compartilhar uma Festa no Céu e na Terra. Convida a olhar o Céu para entender tudo o que se passa na Terra e poder gerar céus novos e terra nova onde habite a Justiça (Ap 21-22; 2 Pd 3,13).
7. Praticar é a condição para Ser Felizes (Ap 1,3). Essa é a exigência que aparece também no Evangelho (Mt 7,21-27) e se renova no começo do Apocalipse, como programa de vida e luz para o caminho e a missão.
8. Ninguém conhece melhor o Apocalipse que o autor do Apocalipse, por isso é necessário levar em conta o que diz Prévost : “estou plenamente convencido: é preciso compreender o Apocalipse pelo mesmo Apocalipse: só uma leitura várias vezes repetida de todo o texto pode fazer descobrir a força e a coerência de sua mensagem”.
9. O autor do Apocalipse, João, nos dá uma chave de seu livro nos três primeiros versículos e nos certifica do que se trata: não de “uma revelação de João”, mas, ao contrário, e em sentido pleno: “REVELAÇÃO DE JESUS CRISTO”. Essa diferença de enfoque não é pequena e as consequências, incalculáveis. Quando o autor diz revelação está dizendo que nos re-ve-la, que não está ocultando (!!) nada, e isso ao longo de todo o livro e em todos e cada um de seus capítulos. O Apocalipse é uma brisa suave para “tempos fortes” – como diria Santa Teresa de Ávila - ou para tempos de tribulação (1,9) e perseguição (6,9-11) como prefere o autor deste livro apaixonante!
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