quinta-feira, 18 de agosto de 2011

APOCALIPSE: A ALEGRIA DE SERMOS PROFETAS


Teologia narrativa para comunidades proféticas

0. INTRODUÇÃO

O Apocalipse, apesar das dificuldades que entranha, é um livro fascinante. Digo isso, agora, depois de haver experimentado grande dificuldade para explicá-lo às comunidades que me pediram um curso sobre Apocalipse, e de tê-lo estudado logo durante vários anos. Demorei dois anos até que encontrei o jeito de apresentá-lo em Equipe durante três semanas, primeiro a 70 adultos e dez crianças, e em seguida a 75 crianças e 150 jovens e adultos da paróquia Nossa Senhora Auxiliadora de Pau da Lima, Salvador na Bahia.

- DESMONTANDO: O QUE NÃO É O APOCALIPSE!

O Aurélio diz sobre o Apocalipse: “O último livro do Novo Testamento atribuído a S. João, o Evangelista, e que contém revelações terroríficas acerca dos destinos da humanidade. Fig. Linguagem muito obscura, sibilina”. Assim, na linguagem popular e comum, apocalipse e apocalíptico, deixaram de ser um gênero literário cultivado, sobretudo nos dois séculos anteriores a era cristã e nos dos séculos depois de Cristo, e passaram a ser sinônimo de coisas tremendas, terroríficas, de catástrofes, desastres ou coisas semelhantes... Devido ao fato de, na maioria das bíblias em língua portuguesa se usar o título Apocalipse e não Revelação, até o significado da palavra ficou obscuro, sendo às vezes usado como sinônimo (errôneo) de "fim do mundo".

Existem, falando muito em geral, dois tipos de Apocalipses: Primeiro, aquele que escreveu João e temos na Bíblia, difícil de se explicar, mas da para entender. Segundo, existe outro Apocalipse na cabeça de muita gente (!), no imaginário do povo em geral, criado na cultura ao longo de séculos de história, fruto de certa literatura ou de películas cheio de monstros, imagens fabulosas e coloridas que realmente não da para explicar, por que não corresponde e não tem nada a ver com o texto que encontramos no livro do Apocalipse!

Em ambientes fundamentalistas, infelizmente, é costume enfatizar aspectos que jamais foram os mais importantes no Apocalipse, baseados apenas em um ou outro texto. Uma leitura ao pé da letra e uma leitura dos textos fora do contexto levam a qualquer pretexto ou a uma leitura falseada de sua finalidade original!

Uma coisa muito estranha e curiosa: O Apocalipse é um livro que causa muito medo , quando, paradoxalmente, foi escrito para comunidades perseguidas no meio do Império Romano para acender nelas a Coragem, a Resistência, a Alegria, a Profecia, o sentido da Vitória e da Esperança em Cristo, O Vivente! Há várias figuras ao longo do livro, mas a figura CENTRAL do Apocalipse é, sem dúvida alguma, CRISTO MORTO E RESSUSCITADO!
Estou convencido, como dizem Eduardo e Manuel, que “O Apocalipse é totalmente diverso porque ensina a viver a fidelidade corajosa em meio ao mundo e ao conflito, confiante na vitória de Cristo. O Apocalipse é, antes de tudo, um livro de confiança, segurança e esperança” .

1. CAÇA AO TESOURO: CRITÉRIOS DE LEITURA DO APOCALIPSE

1. Começar pelo começo e chegar até o fim: isso está muito bem! Assim de simples e assim de claro: ler capítulo por capítulo. Desde o começo até o final, seguindo o fio dos acontecimentos, seguindo a pista das personagens, seguindo as chaves que vai colocando a cada passo. Meu conselho, breve e direto, é ler os três primeiros capítulos, três vezes. Logo o resto até o final.

2. Ler e interpretar os textos difíceis e escuros, à luz dos textos claros. Não começar logo por interpretar os detalhes. Uma vez que temos a visão de conjunto os detalhes se iluminam reciprocamente. Ler um minuto cada dia. Leitura constante e continua para entrar em sintonia e ter intimidade “com o mundo do Apocalipse”.

3. Anota tudo o que lhe chamou a atenção na leitura.

4. Anota todas as perguntas e dúvidas relacionadas com o Apocalipse. Uma vez anotadas as perguntas, lê o Apocalipse e deixa que a leitura e o texto respondam em seu momento e iluminem as dúvidas e perguntas. O texto se irá fazendo cada vez mais transparente, revelando seu segredo e o objetivo último pelo qual foi escrito.

5. Ler e trabalhar o Apocalipse em grupo, em comunidade (1,3; 2,1-3,22). O Apocalipse está dirigido a sete comunidades, por isso a comunidade é o lugar ideal para compreendê-lo em profundidade.

6. Celebrar: O Apocalipse é uma grande celebração da Vitória sonhada, esperada trás anos de luta e compromisso (Ap 6,9-11). O Apocalipse nos convida a compartilhar uma Festa no Céu e na Terra. Convida a olhar o Céu para entender tudo o que se passa na Terra e poder gerar céus novos e terra nova onde habite a Justiça (Ap 21-22; 2 Pd 3,13).

7. Praticar é a condição para Ser Felizes (Ap 1,3). Essa é a exigência que aparece também no Evangelho (Mt 7,21-27) e se renova no começo do Apocalipse, como programa de vida e luz para o caminho e a missão.

8. Ninguém conhece melhor o Apocalipse que o autor do Apocalipse, por isso é necessário levar em conta o que diz Prévost : “estou plenamente convencido: é preciso compreender o Apocalipse pelo mesmo Apocalipse: só uma leitura várias vezes repetida de todo o texto pode fazer descobrir a força e a coerência de sua mensagem”.

9. O autor do Apocalipse, João, nos dá uma chave de seu livro nos três primeiros versículos e nos certifica do que se trata: não de “uma revelação de João”, mas, ao contrário, e em sentido pleno: “REVELAÇÃO DE JESUS CRISTO”. Essa diferença de enfoque não é pequena e as consequências, incalculáveis. Quando o autor diz revelação está dizendo que nos re-ve-la, que não está ocultando (!!) nada, e isso ao longo de todo o livro e em todos e cada um de seus capítulos. O Apocalipse é uma brisa suave para “tempos fortes” – como diria Santa Teresa de Ávila - ou para tempos de tribulação (1,9) e perseguição (6,9-11) como prefere o autor deste livro apaixonante!

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